O Tribunal Supremo de Angola absolveu o general Manuel Hélder Vieira Dias “Kopelipa” de todos os crimes de que estava acusado, ordenando a restituição do seu património. A decisão teve como base, entre outros documentos, um relatório enviado por Portugal no âmbito da cooperação jurídica bilateral, que incluía o histórico das investigações iniciadas em 2010 e posteriormente encerradas por decisão judicial portuguesa.

A absolvição abre espaço para que Kopelipa conteste as sanções impostas pelos Estados Unidos, mas também desencadeou novas narrativas mediáticas. O jornal português Correio da Manhã voltou a colocar o general sob vigilância internacional, procurando impedir que o ciclo político aberto com a decisão judicial se encerre.


Analistas apontam que a luta anticorrupção, em vez de se afirmar como princípio de transparência, tem sido usada como instrumento de controlo político, com manipulação de factos e associações que fragilizam a democracia.


Um dos elementos mais polémicos da cobertura mediática foi a referência a um suposto “banco russo”. Em Angola, a ligação à Rússia tem sido usada como atalho discursivo para insinuar ameaças à segurança nacional, sobretudo após a acusação de dois cidadãos russos por terrorismo e tentativa de alteração da ordem constitucional.


Recorde-se que, em 2019, Kopelipa foi acusado informalmente de tentativa de golpe de Estado, sem qualquer prova ou processo judicial. A acusação, embora juridicamente inexistente, cumpriu o objetivo político de fragilizar a sua figura. Agora, ao introduzir a narrativa de alegadas transferências de 34 milhões de dólares por um banco russo, certos sectores procuram reativar essa sombra antiga e associá-la a novos fantasmas.


Especialistas sublinham que não há factos concretos que sustentem tais acusações, mas sim uma “engenharia simbólica” que prolonga artificialmente o estigma. A palavra “Rússia” funciona como gatilho para serviços estrangeiros, diplomatas e organismos de sanções, perpetuando suspeitas sem provas.


O caso Kopelipa expõe, segundo críticos, a degradação do instrumento da verdade e a transformação da luta anticorrupção em vendetta política. A manipulação em torno do processo, tanto em Angola como em Portugal, é vista como sinal de que o país continua a ser conduzido por narrativas fabricadas em vez de princípios sólidos de justiça e transparência.

Denunciar estas práticas, defendem observadores, não significa proteger indivíduos, mas sim garantir o direito dos angolanos a um Estado que funcione para os cidadãos e não contra eles.

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