É o povo angolano, que entre sorrisos e lágrimas, entre sonhos e mágoas, continua de pé a construir e a reconstruir o futuro que quer para si.

É dos heróis tombados, dos quais ainda restam memórias nos álbuns de família, nos recortes de jornais, nas páginas de livros guardados em estantes ou em diários pessoais. 

É de tantos guerrilheiros e guerrilheiras desconhecidos que travaram combates contra a chantagem, contra a perseguição, contra a opressão, contra a violência, contra a prisão, a tortura e a anulação dos próprios direitos num solo que não era oficialmente declarado pátrio.

Foi a uma só voz que se proclamou a libertação do jugo colonial em 1975. O medo jamais calou a semente que fez germinar o grito dos que como os que partiram são audazes de raiz. 

Dois anos depois foi escrita uma página negra, na então jovem independência, cujo sangue derramado não parou mais de ser vertido. De conflito em conflito, até hoje, clama pela correspondência como o de Abel morto às mãos de Caim. 

A guerra pela soberania territorial mutilou e fragmentou. Trouxe suspeita, vingança e rancor entre irmãos. Criou milhões de refugiados, órfãos, soldados, coronéis, generais, cujo psicológico para sempre ficou atribulado e muitos carregam feridas emocionais, dor camuflada e o peso do terror consigo às costas transportado e partilhado com os netos que não têm como entender na pele. 

O preço da paz não silencia os monstros que assombram as cruéis faltas passadas, tal como não afoga os tormentos presentes daqueles que diariamente matam sonhos, enquanto estão defuntos por dentro. 

Hoje o herói colectivo volta a ter um rosto jovem, dos que baixaram os braços e se entregaram à resignação, aos que não deixam de lutar e reconhecem o valor da instrução e do estudo. Outros partem e outros regressam, um vaivém que sempre caracterizou os filhos desta terra. 

Hoje vemos bocas e ouvidos atentos e interventivos aos acontecimentos, moldando este país a par e passo. Críticas perante as injustiças que teimam em resistir nos tribunais, nas igrejas e nos órgãos públicos, tantas vezes revestidos de arrogância e insolência por aqueles que querem ser servidos em vez de serem servos. 

Nos jornais, onde muitos negoceiam mais salários e têm cada vez menos senso e compromisso com o dever de informar, enquanto a população não esquece o legado dos que são cúmplices da omissão para manterem o circo e o pão do Império. 

Hoje o herói colectivo pede fim a todo tipo de esquemas e enleios, a todo tipo de teias de aranha tecidas pela normalização da mediocridade em vez da excelência, da bajulação em vez da competência e do atraso daqueles que querem o retrocesso dos que querem correr de mãos dadas com a jovem independência.

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