Há muito que estudar, em Angola, deixou de ser um “Dever Revolucionário”. Sou, (in)felizmente, desse tempo. Estudar hoje depende da sorte de cada um e das oscilações de humor do Executivo. Só assim concebo que se tenha tido o desplante de interromper as aulas dos “meninos do Huambo” para receber uma ilustre visita: Esperança da Costa, vice-Presidente da República. É preciso não olvidar que, um dia, os “meninos do Huambo” sonharam com as liberdades e a melhoria das condições de vida do povo. Os seus netos, os “meninos do Huambo” dos nossos dias, passadas quase cinco décadas de independência, testemunham na carne o preço insuportável dos alimentos da cesta básica.

Por isso, os “meninos do Huambo” já não são tão líricos como nos apresentou um dia, na década de 80, o poeta, romancista, político e advogado Manuel Rui Monteiro. Hoje são realistas. Têm a língua afiada. São maduros politicamente. Dizem poesias que traduzem o seu sofrimento. São mais ousados. Tão ousados ao ponto de contrariar o rifão lusitano segundo o qual, a “esperança é a última a morrer”.  Na última semana, não mataram a Esperança (da Costa), mas botaram-na a correr. Mas a bom correr. Esperança da Costa – coadjutora do Presidente da República e Titular do Poder Executivo – foi a primeira a correr, ante os apupos dos “meninos do Huambo”.

A estória é meio rocambolesca, mas conta-se num só folego e com um pé às costas.  Na pretérita semana, o Presidente João Lourenço mandou a sua adjunta à província do Huambo. Objectivo: visita de trabalho. À sua chegada estavam os “meninos do Huambo” à espera dela no aeroporto “Albano Machado”. Os petizes lá estavam a contragosto, porque mobilizados à força – como que sob o cano de armas – para tal empresa.

Quando Esperança da Costa desembarcou, pensou que fosse encontrar os meninos que, ao tempo de Manuel Rui Monteiro,  construíam sonhos com os mais velhos de mãos dadas e que no céu descobriam estrelas de magia. A vice-Presidente da República teve uma desagradável surpresa. A governadora local, estupefacta, levou às mãos à cabeça devido à vaia de que estava a ser alvo Esperança da Costa.

Os “meninos do Huambo” presentes no aeroporto “Albano Machado”, não receberam Esperança da Costa com os sorrisos mais lindos do planalto. Não fizeram continhas engraçadas de embalar. Não somaram beijos com flores. Pelo contrário. Gritaram a plenos pulmões: o “preço do arroz subiu” e a “gasolina está mais cara”. Trocaram às voltas ao protocolo e puseram a Unidade de Segurança Presidencial (USP) em pânico com os seus apupos.

Não tarda virá alguém dizer que, por detrás do acto dos insolentes “meninos do Huambo”, há uma “mão invisível” (já) bem identificada que mais dia  menos dia poderá ajustar contas com as armas de arremesso do Presidente da República e Titular do Poder Executivo: os tribunais e o SIC.

Tenho para mim que a vaia de que Esperança da Costa foi alvo, na capital do Planalto Central, é um sério e claro aviso à navegação e atesta que o Executivo continua a “dar com os burros na água (sic!)”. O episódio ocorrido na capital do Planalto Central sugere que os “meninos do Huambo” desaprovam as políticas do Executivo e não gostam de ser politicamente forçados a nada. Por isso, puseram Esperança da Costa (vice-presidente da República) a correr. A bom correr!

Sugestão: o sinal demonstrado pelos “meninos do Huambo” convoca o Executivo a ter, doravante, “um olho no burro e outro no cigano (sic!)”. Pois!

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