Nuno Dala expôs ao Presidente João Lourenço os problemas da província e está a ser elogiado nas redes sociais. Poderá sofrer retaliações? Analistas ouvidos pela DW afastam essa hipótese.
POR: A JUSTIÇA
As reacções continuam a surgir em resposta às recentes declarações do governador da província angolana da Huíla, Nuno Dala, durante a visita do Presidente João Lourenço, na semana passada. Na ocasião, Dala identificou problemas na educação, saúde, energia eléctrica, água potável e infra-estruturas rodoviárias, apontando directamente as dificuldades enfrentadas pela população local.
A província da Huíla é um dos principais destinos turísticos em Angola, com destaque para a Serra da Leba e a Fenda da Tundavala. As maravilhas naturais têm projectado uma imagem de uma região com poucos problemas. No entanto, o primeiro secretário provincial do MPLA na Huíla revelou que essa percepção não é completamente precisa.
As declarações foram feitas por Nuno Dala durante uma reunião presidida pelo chefe de Estado angolano. Um dos problemas apontados foi o estado das estradas na província.
“Entendemos que não somos ricos para asfaltar todas as estradas, mas se fizermos um estudo – e o ministro das Obras Públicas está bem alinhado nesta direção – há também a utilização de outros materiais. A cidade do Lubango é uma prova disso, muitas ruas foram calçadas com granitos. Este é um material de desperdício, está ali, existe. Vamos fazer um investimento. É possível”, lembrou o governador ao Presidente João Lourenço.
“O que é que falta? Discutirmos com mais propriedade e termos recursos e termos a vontade de o fazer, porque, excelência, temos estradas secundárias e terciárias que não facilitam”, acrescentou.
CIDADÃOS ELOGIAM CORAGEM
As reacções não se fizeram esperar. Cidadãos nas redes sociais elogiaram a coragem de Dala, porém também receiam retaliações pela sua frontalidade. Especialistas e cidadãos temem que sua franqueza possa resultar na perda do cargo.
Em entrevista à DW África, Serafim Simeão, coordenador do projecto político PRA-JA na Huíla, saudou a postura de Nuno Dala: “O governador, com o respeito, apresentou aquelas que são as dificuldades, aquelas que são as inquietações quer das igrejas, da sociedade quer dos partidos políticos na oposição”, afirmou.
Simeão não acredita que o governador da Huíla seja alvo de retaliações por parte da Presidência, “muito embora seja um hábito”.
“Notamos a frontalidade que o governador de feliz memória, Luther Rascova, teve ao apontar os problemas de Luanda, mas que não caíram bem aos auxiliares do Presidente da República”, recorda.
O analista político Agostinho Sikatu também afasta a possibilidade de represálias, argumentando que Nuno Dala fez o que se esperaria de um governador responsável: “Ele é que conhece os problemas locais, lida com as comunidades, sabe o que é que elas passam, conhece os projectos e sabem quais são os que devem ser prioritários”, frisa.