Milhares de passaportes biométricos, comprados pelo Estado angolano ao custo de 139 milhões de dólares, estão a apodrecer em armazéns da Boavista. Um investimento colossal, pago com dinheiro público e financiado pelo banco húngaro Exim, que deveria servir os cidadãos, mas que foi transformado em sucata pelo capricho de governantes corruptos.
A empresa húngara Any Security Printing Company cumpriu integralmente o contrato: entregou os passaportes electrónicos, os sistemas de registo e as estações biométricas. O passaporte angolano, reconhecido pela ICAO, tinha validade internacional e garantia de segurança contra fraude. Era um avanço tecnológico e institucional. Mas em Angola, o que funciona tem de ser destruído se não gerar novos esquemas de comissões.
O ministro do Interior, Manuel Homem, e o director-geral do SME, José Coimbra Baptista Júnior, não hesitaram: desmontaram a sala de operações dos passaportes biométricos e mandaram enterrar documentos e equipamentos de ponta num armazém poeirento. Porquê? Para preparar um novo contrato obscuro, acima de 100 milhões de euros, desta vez com a Casa da Moeda de Portugal. Não se trata de melhorar nada. Trata-se de reiniciar o ciclo da corrupção, garantir milhões em subornos e repartir negócios sujos entre Lisboa e Luanda.
É assim que se governa Angola: sabota-se um sistema moderno, desperdiça-se dinheiro público e inventa-se um novo negócio, só para enriquecer a elite predadora. Recentemente, Manuel Homem, José Coimbra e cúmplices do SME viajaram a Portugal em cortejo oficial para negociar este assalto internacional. A Casa da Moeda é apenas o próximo veículo de saque.
Enquanto isso, a realidade em Angola é devastadora: milhões de crianças sem escola, famílias a revirar lixo para comer, hospitais sem medicamentos básicos, cidadãos a morrer por abandono do Estado. No meio desta miséria, o governo rasga centenas de milhões de dólares para alimentar os bolsos de ministros e diretores.
Este escândalo é a radiografia perfeita do regime: um Estado capturado, sem vergonha, sem prioridades, sem humanidade. Os passaportes biométricos, feitos para identificar os cidadãos, tornaram-se o espelho da corrupção que rouba a identidade nacional e transforma o futuro em lixo.