Para comemorar o Dia Internacional da Solidariedade com o Sul Global, o programa “Diálogos de Solidariedade Global”, da Rede de Solidariedade Global, organizou um salão cultural com o tema “Cooperativismo no Sul Global”. O evento coincidiu com a declaração da ONU de 2025 como o Ano Internacional das Cooperativas, sob o lema “Cooperativas: a voz unida do Sul Global rumo a um futuro sustentável”.

O salão contou com a presença de destaque do Dr. Mohamed Abdel Hakim Ibrahim, Presidente do Conselho de Administração da Rede de Economia Social e Cooperativa no Oriente Médio e Norte da África e autor do livro “Cooperativas e as Questões de Desenvolvimento”. O evento também teve a participação do pesquisador Hassan Ghazali, fundador da Rede de Solidariedade Global, e da Dra. Sally Saad, especialista e consultora internacional em comunicação e relações públicas e professora de relações públicas no Instituto Superior de Mídia e Comunicação de Al-Jazeera, como debatedores. A moderação foi conduzida pelo Dr. Mohamed Sayyaf, Professor Assistente (Pesquisador Sênior) no Instituto de Pesquisas de Economia Agrícola e no Centro de Pesquisas Agrícolas.

Cooperativismo: A Humanização da Economia

O Dr. Mohamed Abdel Hakim Ibrahim iniciou seu discurso no salão “Cooperativismo no Sul Global” com uma pergunta para o público: “Por que precisamos de cooperativas? E que tipo de cooperativas precisamos?”. Ele enfatizou que qualquer trabalho de desenvolvimento não se limita às dimensões econômicas de retorno e progresso, mas se estende ao desenvolvimento cultural, intelectual e científico, ressaltando a necessidade de diferenciar entre crescimento econômico e desenvolvimento abrangente.

Nesse contexto, Abdel Hakim abordou o conceito de economia social e cooperativa como uma tentativa de responder à pergunta central: “Pode haver uma economia mais ligada ao ser humano?”. Ele se referiu a isso como “a humanização da ciência da economia”, termo cunhado pelo pensador econômico Samir Amin. Ele explicou que a economia social e cooperativa é uma abordagem que se concentra na satisfação das necessidades humanas, sociais e ambientais, em vez de buscar o lucro máximo. É baseada nos valores de solidariedade, responsabilidade mútua e governança democrática. Essa economia assume várias formas, sendo as mais proeminentes:

* Cooperativas agrícolas, cooperativas de trabalhadores e cooperativas de habitação.

* Associações de caridade e organizações sem fins lucrativos.

* Empresas comunitárias.

Ele também enfatizou que a implementação desse modelo requer ações e passos integrados nos níveis político, legislativo e comunitário, destacando que a economia social e cooperativa pode ser um motor fundamental para o desenvolvimento sustentável, a criação de empregos, a melhoria dos padrões de vida e a redução das desigualdades sociais.

Cooperativismo: Uma Resposta Humana aos Problemas da Revolução Industrial

O Dr. Abdel Hakim revisou a origem do movimento cooperativo global, ressaltando que não foi apenas uma ideia econômica, mas uma resposta humana direta aos desafios impostos pela Revolução Industrial na Europa. Ele explicou que a transição das sociedades do campo para as cidades e o crescimento do sistema capitalista, baseado no lucro sem consideração social, criaram uma grande lacuna entre os proprietários de capital e os trabalhadores.

Ele acrescentou que a economia capitalista da época não conseguiu absorver o grande número de trabalhadores, o que levou à disseminação da pobreza, da exploração e à deterioração das condições de vida. Foi nesse momento que surgiu a necessidade de uma alternativa econômica que colocasse o ser humano no centro de suas preocupações. Assim, as cooperativas foram criadas com princípios e valores sólidos, incluindo: adesão aberta e voluntária, controle democrático, participação econômica dos membros, autonomia e independência, educação e treinamento, cooperação entre cooperativas, além da preocupação com a comunidade. Ele afirmou que esses princípios não eram apenas slogans, mas formavam um roteiro para o estabelecimento de entidades econômicas capazes de servir a seus membros e comunidades de forma sustentável.

O Dr. Abdel Hakim também abordou os modelos de propriedade, indicando que as cooperativas representam um modelo único de propriedade coletiva, que difere da propriedade pública (governamental) e da propriedade privada (individual). Nesse contexto, ele apresentou várias experiências locais no Egito no campo das cooperativas agrícolas, que provaram ser bem-sucedidas em melhorar a vida dos agricultores e aumentar sua produtividade.

Cooperativismo: Uma Força Motriz para o Desenvolvimento

Por sua vez, o Dr. Mohamed Sayyaf, Professor Assistente (Pesquisador Sênior) no Instituto de Pesquisas de Economia Agrícola e Centro de Pesquisas Agrícolas e coordenador da Escola de Solidariedade do Sul Global, destacou a grande importância das cooperativas econômicas e sociais em seu discurso, mencionando suas diversas formas no Egito. Ele apontou que somente as cooperativas agrícolas beneficiaram aproximadamente 12,5 milhões de pessoas, além das cooperativas de artesãos e de consumo, entre outras.

Sayyaf expandiu sua fala para incluir experiências internacionais em países do Sul Global, afirmando que muitos deles se inspiraram na experiência egípcia dos anos 60, especialmente os países do Movimento dos Não-Alinhados que buscavam se libertar da dominação capitalista colonial. Ele mencionou a experiência da Tanzânia no final dos anos 60 e início dos anos 70, que representou um notável salto de desenvolvimento graças à adoção do cooperativismo. Ao mesmo tempo, ele se referiu ao interesse do Presidente Abdel Fattah El-Sisi na legislação cooperativista e nas formas de sua fundação, explicando que a verdadeira garantia da sustentabilidade de projetos que servem 23 setores diferentes reside na existência de cooperativas fortes e eficazes.

Cooperativas de Mídia: Uma Voz Unida para o Sul Global

Em seu comentário, a Dra. Sally Saad enfatizou a importância de fundar o que ela chamou de “cooperativas de mídia” entre os países do Sul Global, descrevendo-as como “a voz unida do Sul Global”. Ela as considerou uma ferramenta para preencher a lacuna de mídia e fortalecer a presença das questões do Sul em meio às rápidas interconexões globais.

A Dra. Sally explicou que essas cooperativas permitem a produção de conteúdo original e confiável que reflete as questões das comunidades locais, longe da distorção, além de fornecerem uma plataforma para a troca de experiências e conhecimentos entre profissionais de mídia e a união de recursos para fortalecer as capacidades de mídia conjuntas. Ela também revisou os principais desafios que esse modelo enfrenta nos países do Sul Global, que incluem: a lacuna de mídia e a marginalização das questões, a dominação de agendas externas, a fraqueza dos recursos e os desafios tecnológicos.

Ela concluiu seu discurso apresentando a experiência da “Rede de Jornalistas do Clima na África” (ACJN) como um modelo bem-sucedido de cooperação de mídia regional na área de questões climáticas, enfatizando que a fundação de tais cooperativas é um passo estratégico para recuperar o controle da narrativa da mídia e fortalecer a presença dos países do Sul no cenário internacional.

Projetos para Promover o Diálogo e a Cooperação

Por sua vez, o pesquisador Hassan Ghazaly afirmou que a Rede de Solidariedade Global serve como um guarda-chuva para vários projetos lançados de forma cumulativa desde 2012, com o objetivo de fortalecer o espírito de trabalho conjunto e solidificar os valores de solidariedade em suas diversas formas. Ele explicou que os projetos mais proeminentes que refletem a diversidade das atividades e a visão voltada para a promoção do diálogo e da comunicação são: o modelo de simulação da União Africana, a iniciativa “AfroMedia”, o projeto cultural de massa “Sementes”, a Escola de Solidariedade do Sul Global, o Projeto Nacional para a Conscientização sobre o Acordo de Comércio Africano, o projeto de solidariedade dos povos do Vale do Nilo e o programa “Diálogos de Solidariedade Global”.

Vale ressaltar que o salão testemunhou uma ampla interação do público, que fez intervenções e perguntas variadas, revisando experiências cooperativas de países do Sul Global como a China. As atividades foram concluídas com a homenagem do pesquisador Hassan Ghazali ao Dr. Mohamed Abdel Hakim Ibrahim e a captura de fotos de grupo em memória do evento.

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