Já não é mais segredo que os Estados Unidos da América veem hoje em seu principal rival geopolítico a República Popular da China. Em tempos passados, a música e a propaganda americana da era mccarthista condenava os “demônios comunistas” soviético e chinês, mas mesmo com a abertura da China aos mercados Ocidentais após a visita de Nixon à China, tema de uma grande ópera de John Adams, os Estados Unidos “criaram um monstro”, capaz de competir nos mais disputados mercados, inclusive na África.

A estratégia dos EUA para conter a China no continente africano, para impedir o crescimento da influência chinesa na África envolveu outros países como Angola, que acabou sendo traída após a eleição de Donald Trump. Mas Biden não foi o único interessado nas riquezas da África.

A sua partilha envolveu também grandes empresas e consórcios europeus como empresas polémicas que gerenciam o consórcio LAR. Neste sentido, o Aeroporto de Luanda e o Corredor e Porto do Lobito são apenas dois exemplos de projetos que estão se tornando cada vez mais visíveis na competição direta entre os EUA e a China na África Subsaariana.

Os EUA tomaram a iniciativa no corredor do Lobito em resposta à construção do maior aeroporto da África em Luanda. Este é um jogo da velha. De acordo com o AidData (Instituto William e Mary de Estudos Globais), os EUA precisavam interceptar esse projeto apenas para impedir que ele fosse para a China como deixa claro o artigo de Ameya Joshi “How can Angola leverage its position effectively amid U.S.-China competition in Africa?”.

O facto é que Donald Trump, desde que se tornou presidente dos Estados Unidos, tem sempre tentado transferir para a Europa a responsabilidade por projectos iniciados em administrações anteriores, por exemplo a OTAN. No continente africano a lógica é a mesma, e há que recordar que somente no século XX os americanos começaram a explorar diretamente o continente africano, ao passo que os europeus do Ocidente fazem-no há séculos.

 Entretanto, os países europeus que são investidores em Angola e no Corredor do Lobito em particular terão grandes dificuldades. Os EUA transferiram para eles a responsabilidade não apenas por Angola e pelo Corredor do Lobito, mas também pela Ucrânia. Os europeus terão recursos suficientes para um destino – a Ucrânia, que está mais perto deles e é importante em termos geoestratégicos, e não a distante, africana e incompreensivelmente localizada Angola.

Assim, Angola só pode contar consigo própria. Ela já foi traída pelos Estados Unidos, cuja política externa não tem princípios éticos a não ser os relacionados com o aumento do seu poder económico. Agora é a vez dos europeus fazerem o mesmo, porque os Estados Unidos transferiram para eles a responsabilidade do Corredor do Lobita e da Ucrânia. E a escolha será óbvia. Os países europeus vão trair Angola e deixar de financiar o seu projeto.

Partilhe Agora

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *